Não sei que idade teria a primeira vez que pisei São João da Pesqueira. Mas em nenhuma das vezes em que lá tinha estado, visitei as sugestões do Passaporte Douro.
Desta vez não fizemos nenhum trilho, somente caminhamos pelas freguesias do concelho, deixamo-nos render às apaixonantes cores de Outono e, claro, conquistamos mais quatro carimbos. Fomos com o nosso amigo Paulo e a Mãe, a Tia Rosarinho.
A visita começou no Posto de Turismo de São João da Pesqueira, onde é possível adquirir produtos da região, maioritariamente vinho, mas também mel ou louças. Foi também aí que a amável funcionária nos colocou o carimbo no espaço do Centro Histórico bem como do Miradouro de São Salvador do Mundo. E, mesmo em frente, conseguimos o terceiro carimbo: o do Museu do vinho. Porém aqui, ganhamos muito mais do que carimbos. Num edifício, sublime e majestoso, o museu distribui-se por seis pisos que abrigam uma exposição permanente, ligada à temática do vinho, uma sala de provas, uma loja de vinhos, um winebar e outros espaços destinados a manifestações de cultura.
Seguimos em busca do carimbo da Igreja Paroquial de Trevões. Trevões é uma fábula, é um retorno ao passado, um passeio pelo cenário de um filme de condes e bispos, com as suas impactantes casas brasonadas e palacetes e as ruas alinhadas de casas uniformes todas enfeitadas. A chamar-nos para o presente, deslumbramo-nos com as emoções pintadas em casas de granito devolutas, sob a forma de rostos marcantes.
A igreja paroquial de Trevões é um edifício românico-gótico com uma torre sineira barroca, poético e elegante. No seu interior encontrar-se-ão tesouros tão valiosos que, justificaram a classificação como Monumento Nacional. Porém, não sabemos quais são. Não obstante termos chegado em horário de visita, o Padre Amadeu da Costa e Castro, pároco da aldeia há 30 anos, foi nomeado para outra paróquia e conseguimos acertar precisamente no dia da tomada de posse do novo sacerdote, pelo que a igreja estava encerrada quando lá passamos.
Conseguimos, não obstante, o carimbo em falta, no Museu de Arte Sacra de Trevões, do outro lado da rua. Instalado numa casa de perfil nobre, este museu preserva e divulga o património cultural de aldeia, centrado na Arte Sacra. O museu conta também com uma biblioteca e um espaço de expressão cultural.
Sempre alegre e incansável ia a Tia Rosarinho, leve e a transbordar juventude. Há pessoas que têm esta capacidade de não se deixar consumir pela idade.
Dizem que a idade é só um número. Mas números contava eu aos vinte anos, dos Kms de corria, das noitadas com os amigos, dos projetos que tinha para o futuro. Agora conto o número de minutos que aguento acordada após o genérico de um filme! Se a idade são só números, então contam-se em quilos: a idade pesa. É o peso dos arrependimentos, o peso das decisões que já não se podem tomar porque o corpo já não permite, o peso das rugas cravadas no rosto como pregos e o rosto de quem já partiu a desvanecer-se das memórias.
E precisamente para criar memórias fomos ao Miradouro de São Salvador do Mundo: um daqueles lugares em que, mesmo não sendo religiosa, tenho vontade de rezar.
Brutais encostas rochosas arborizadas, numa margem, a contrastar declives socalcados, na outra, a despencarem-se nas linhas do rio Douro, como uma rima interpolada.
Da capela erguida de frente para a barragem da Valeira, toda a envolvente é uma oração: escarpas rochosas arborizadas, com curvas vertiginosas, a embalar um rio bando, primeiro verde-garrafa, depois azul-topázio, terapêutico
Estavam visitados os quatro locais sugeridos pelo Passaporte Douro. Contudo, aproveitamos o regresso para mais duas paragens: o Miradouro de Frei Estevão e o Miradouro Coração do Douro com vistas mais do que poéticas, a pedir uma oração.
Ana
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