Figos e grilhões

Last updated on 11 de August, 2024

Subimos à aldeia dos figos, mas o trilho deste fim-de-semana fez-se, maioritariamente, de oliveiras e cloreto de sódio fervido.

Fizemos o PR 5 – Trilho de Santa Catarina, em Mirandela, orientados pelo track que descarregamos do “Trilhos & Caminhadas” e deixamos lá pulmões vazios e arritmias cozinhadas sobre tapetes de terra batida amassada por temperaturas arrebatadoras.

O trilho começa em frente ao Museu Dr. Adérito Rodrigues e sobe 2 Kms até ao Miradouro de Santa Catarina. A subida é árida, cravada em caminhos florestais esculpidos em bosques de sobreiro e carvalhos que deixam adivinhar as curvas do Rio Tua e vastas ondas de oliveiras.

Ao chegar, encontramos um baloiço com forma de figo: o baloiço da aldeia de Abreiro, em que o figo é fonte de rendimento e emblema de tradições. O baloiço disponibiliza uma vista panorâmica sobre as montanhas e o novelo de telhados que compõe a freguesia de Abreiro. Oferece também as memórias, cravadas em ruínas, de uma antiga capela que se vai desmoronado como castelos de sonhos e projetos que ficam por concretizar.

O trilho segue, daí, para o Miradouro do Bilhardo, primeiro a descer, depois a subir, o Paulo a incentivar-me a correr, mas eu não corro só com as pernas, arrasto comigo muitos quilos de culpas e  arrependimentos que me prendem como grilhões de um condenado. Lá fui correndo ao ritmo do respirar das oliveiras, a rasgar as encostas rochosas e esverdeadas, com painéis de zelhas e sobreiros, oliveiras e, amiúde, uma outra figueira. As subidas não são vertiginosas como as do Marão mas chegaram para arrancar gotas de água e cloreto de sódio, como pingos de chuva a cair de um telhado.

A vista do miradouro compensou o esforço: torrentes de carvalhos, azinhais e pinheiros, distribuídos em formas geométricas diversas, pelas bordas do rio tua, que brilha como prata acabada de enxaguar.  Sentamo-nos a observar a panorâmica que se estende desde o passado com que não conseguimos fazer as pazes, até às pontas de Vila Real.

O regresso foi maioritariamente a descer, a correr como os milhafres que observamos a aplanar nos céus, à boleia de correntes de ar, por desfiladeiros de xistos e grauvaques, de frente para imponentes esculturas de arbustos espinhosos e matas de matas de carvalhos, urzes e vidoeiro. Figueiras vimos poucas, e com figos verdes. Vamos ter que voltar em Setembro para os apanhar!

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Ana

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Partilhas, sátiras, reflexões, sobre as corridas do quotidiano e das metas a atingir.

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