Foi em Armamar que obtivemos o nosso “Passaporte Douro”. Até esse momento desconhecíamos a existência deste documento e o nosso plano para cinco dias de férias era passar as manhãs a caminhar e as tardes a descansar na praia fluvial da Barragem do Vilar. Porém, choveu todos os dias!
No dia em que chegamos a Armamar chovia de tal forma que as estradas eram rios e os passeios jorravam água como cascatas. Os socalcos cinzentos uniam-se, sem contornos, ao horizonte ameaçador e as rajadas de vento vergavam os pinheiros com autoridade.
Decidimos revisitar o Centro Interpretativo da Mulher Duriense e foi aí que descobrimos o “Passaporte Douro”. O desgosto pela perda de mergulhos no rio deu lugar ao entusiasmo da descoberta de novos lugares. O “Passaporte Douro” é um projeto da CIMDOURO que desafia os visitantes da região a descobrir 76 pontos de interesse em 19 municípios.
E foi assim que, numa manhã chuvosa de Setembro, decidimos que iríamos começar a nossa viagem pelo município de Sabrosa. A primeira paragem foi em São Martinho de Anta, freguesia em que nasceu Miguel Torga, autor que dá nome a um espaço cultural que divulga a sua vida e obra. O edifício, forrado com traves de xisto muito sóbrias, tem uma exposição permanente dedicada à vida e obra de Miguel Torga com informação de relevo e imagens magníficas. Tem também uma sala de exposições temporárias em que nos surpreendemos com a XI Bienal Douro com obras de artistas e inúmeras nacionalidades. Á saída pedimos o nosso primeiro dos quatro carimbos que conquistámos em Sabrosa.
O segundo carimbo foi conseguido no B.B. King Parque na visita à exposição permanente “Os locais e culturas da Viagem de Magalhães”. Esta exposição é um mergulho em ondas de tecnologia e uma caminhada em artefactos e documentos de valor extraordinário. Uma experiência sensorial que aguçou o olfato, encheu o olhar e desafiou a audição.
A página seguinte do passaporte propunha visitar os Miradouros da EM 323. E se a palavra dita não pode ser retirada, a palavra escrita deve ser lida até ao fim. Mas nós, falhamos a última letra, o “s”, pesquisamos por Miradouro da EM 323 (e não miradouros) e o google encaminhou-nos para o “Miradouro de Sabrosa”, ajoelhado aos pés do rio Pinhão, com varanda virada para um gigante painel de socalcos esverdeados. Foi um engano magnifico que nos permitiu baloiçar sobre o vale vinhateiro deste Douro interior.
O que o passaporte pretendia, porém, era encaminhar-nos para a Estrada Municipal 323 e revelar-nos os onze miradouros com vista sobre o Douro, distribuídos pelas bordas do alcatrão. Esta estrada panorâmica, que desagua no Pinhão, abre as cortinas para extensas colinas e vales, muito organizados, mas temperados com vegetação espontânea e telhados vermelho-gasto. Parámos em oito dos miradouros e descobrimos a profundidade do vale do Rio Pinhão com as suas encostas onduladas trajadas de videiras, sobreiros e oliveiras. Esta descoberta valeu-nos mais um carimbo no nosso passaporte, que fomos resgatar ao Posto de Informação Turística, localizado na mesma estrada, construído na antiga “Casa do Cantoneiro”. Chamamos a atenção para a confusão que possa surgir (surgiu conosco) entre o Posto de Informação Turística e o Posto de Turismo de Sabrosa, no Jardim do Largo Dr. Sá Fernandes, que vale bem a visita, mas não carimba este passaporte!
Faltava-nos conhecer Provesende e teria sido perfeito fazer o Trilho Vinhateiro de Provesende (PR4 SBR). Contudo, o dia ia longo, a chuva caía certa e a noite não tardava pelo que só caminhamos pela aldeia. Localizada no Concelho de Sabrosa, na margem norte do Rio Douro, a aldeia de Provesende ergue-se no alto de um planalto. Todo o núcleo urbano é um museu, sem horário de entrada, com três obras de destaque, a Igreja Matriz de São João Batista, o Pelourinho e o Fontanário, que não desvalorizam os vários solares e casas brasonadas, incluindo a Casa da Calçada. A imponência destes edifícios, contrasta com os arruamentos exíguos de casinhas tradicionais de traços rurais em que encontramos cabides de ferro e murais pintados de modernidade. O passeio pela aldeia idílica acabou na loja amarela, bem no centro da aldeia para comprar algumas recordações e, naturalmente, carimbar o passaporte!
Ana
Be First to Comment