Os Moinhos e as lagoas

Last updated on 15 de October, 2020

PR1 (GDM) – Moinhos de Jancido

O propósito era concreto: percorrer o Trilho dos Moinhos de Jancido e alcançar as Lagoas de Midões. Contávamos com um percurso plano, muito bem marcado, uma manhã fresca e de introspeção. Na verdade, perdemo-nos várias vezes, subimos paredes de trial, partilhamos memórias e refletimos em conjunto, com muitas gargalhadas e improvisos.

Os Moinhos de Jancido ocupam um lugar da freguesia de Foz do Sousa, no concelho de Gondomar, junto à antiga linha de Midões que ligava as minas de Covelo à foz do Rio Sousa. Tanto quanto conseguimos apurar, até 2016, encontravam-se ao abandono, altura em que um grupo de amigos decidiu, de forma voluntária, restaurar os moinhos de água nos quais os agricultores moíam os cereais para fazer pão e investiram na limpeza dos campos na margem sul do rio, construindo um trilho de 6 km, circular, com zonas de merenda e de estacionamento, miradouros e uma riqueza de flora e fauna incontáveis.

Fomos com a Daniela já vossa conhecida do “Ultra Trail Serra do Alvão – Alerta amarelo”! e a Dora, a “Pikinita” do nosso querido Papakilometros. Estacionamos junto ao Centro de Saúde da Foz do Sousa que dista cerca de 500 metros do início do percurso.

Os primeiros 6 Km, pelo percurso dos moinhos de Jancido, foram quedas de água fresca sobre cobertores de outono, foram mergulhos em choupos, carvalhos, medronheiros, amieiros, foram o som da água que já fez rodar as mós.

Foram os olhos esbugalhados de encanto em cada subida ou descida para mais um moinho que íamos descobrindo, de esqueleto de xisto lavado,  com pedra sobre pedra como casas de legos, foram passos lentos e suaves nos trilhos de terra molhada rasgados em torrentes de vegetação aparada de todos os tons de verde.

Foram os olhos esbugalhados de encanto em cada subida ou descida para mais um moinho que íamos descobrindo, de esqueleto de xisto lavado,  com pedra sobre pedra como casas de legos, foram passos lentos e suaves nos trilhos de terra molhada rasgados em torrentes de vegetação aparada de todos os tons de verde.  O percurso é muito acessível, abundante em sombras, com muito pouco desnível e, sobretudo, muito bem marcado.

Do Parque das Lagoas de Gens

Porém, nós queríamos mais. Estávamos perto do Parque das Lagoas de Gens e queríamos lá chegar. Ocorre que o percurso para lá chegar não tem qualquer marcação. E mesmo com o track, falhamos todos os cruzamentos e entroncamentos! Perdemo-nos mais vezes do que somos capazes de contabilizar mas, como tantas vezes na vida, é preciso perdermo-nos para encontrar aquilo que procuramos e tantas vezes aquilo de que precisamos, nos encontra em caminhos que não havíamos previsto.   

…as Lagoas de Gens são luas cheias verde-esmeralda, são espelho de carvalhos, pinheiros e eucaliptos que aí dão de beber às suas raízes, são repouso de gargantas secas e pernas moídas, valas cobertas por mantos de águas e hipnotizantes.  

Chegamos às lagoas! Produto da intensa atividade da extração de substância de minerais, no Conselho, as Lagoas de Gens são luas cheias verde-esmeralda, são espelho de carvalhos, pinheiros e eucaliptos que aí dão de beber ás suas raízes, são repouso de gargantas secas e pernas moídas, valas cobertas por mantos de águas e hipnotizantes.  

Valeu a pena o caminho para lá chegar. Valeu trepar paredes de terra seca mas guardadas por fartas copas de carvalhos, sobreiros e castanheiros, subir carreiros de lajes pequenas muito redondas cercados por muros de xisto, guarnecidos com várias espécies de urzes e de giestas, voltar para trás e, novamente, para o mesmo ponto, uma e outra vez.

Valeu a pena porque estávamos juntos! Com efeito, gosto de fazer trilhos sozinha para me refugiar da avalanche de informações e distrações diárias, apreciar a riqueza de cada elemento, apreender os sons e os cheiros. Contudo, o caminho é incomparavelmente mais enriquecedor quando partilhado. É um privilégio inquantificável ter amigos que se dispõe a seguir connosco o caminho que pretendemos trilhar. E bem mais estimulante. Se não fosse o Paulo, nem de casa teria saído. Com a Dora absorvi todo um acervo de fluxos e texturas, desde aos figos e flores de maracujá de que não me teria apercebido, aos cogumelos e trufas de diferentes formas e cores, aos anfíbios, insetos e répteis. Com a Daniela, cujo sentido de orientação é tão forte como o meu, do tamanho da cabeça de um alfinete, técnicas de quem teve que aprender a guiar-se sozinha. E com o contributo de todos, lá conseguimos chegar novamente Centro de Saúde da Foz do Sousa, depois de termos cumprido o nosso propósito de conhecer os moinhos e as lagoas.

Ana

Total distance: 18033 m
Max elevation: 159 m
Min elevation: -11 m
Total climbing: 2315 m
Total descent: -2289 m
Total time: 03:46:11
Download file: foz-do-sousa-moinhos-de-jancido-e-lagoas-de-midoes.gpx

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Sharing, satire, reflections on everyday life and the goals to be achieved.

4 Comments

  1. Luís
    15 de October, 2020

    Eu também teria ido. 😀
    Se se perderam, o gpx não deve estar muito correto, a não ser que não tenha sido da vossa autoria.
    Assim que puder irei fazer porque me parece interessante.
    Gratidão pela partilha!

  2. Paula
    24 de February, 2021

    Pode se tomar banho nas lagoas?

  3. pmlvfs
    2 de March, 2021

    Olá Paula! não convém muito, são antigas minas que se encheram de água, muito bonitas mas não para banhos. Mas o Trilho vale bem a pena ;).

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