Ultra Trail Serra do Alvão – Alerta amarelo!

Last updated on 29 de May, 2019

Participamos, este Domingo, no Ultra Trail Serra do Alvão. O aviso dado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera era “amarelo” devido à previsão de chuva forte, vento intenso, nevoeiro e persistência de valores baixos de temperatura mínima. E, de amarelo, se vestiu a serra. Do amarelo das toalhas estendidas sobre os montes imensos mas acolhedores que nos abraçavam, das fileiras de flores costuradas nas beiradas húmidas do caminho, do reflexo da luz do sol que perfurava o bosque mágico das histórias de encantar e que atravessámos ao Km 4. Mas o Alvão envergou várias outras cores. Ostentou o verde dos carvalhos e pinheiros que forravam as encostas, das pastagens e prados salpicados de cor de ferrugem de portões antigos, vergados pelo peso dos anos e das histórias por contar. Vestiu-se de cor-de-rosa. Do cor-de-rosa do equipamento da Daniela que nos acompanhou até onde foi possível e da Ana Paula que nos rebocou até ao fim. Da bondade e carinho da Sandra e da Elisabete, amigas de antes das “corridas”, antes do “trail” ou do “btt”, das conquistas e das frustrações que, pela primeira vez, enfrentaram a serra, que nem o alerta amarelo as travou, só para partilharem connosco mais esta paixão, dos sorrisos dos voluntários que não compreendiam ser poucos numa prova que exigia bastante mais e melhores meios. Mas também se apresentou de vermelho.

Do vermelho do susto e do som das gargalhadas ao sermos barrados por manadas de vacas, vermelho da euforia do Nuno Cunha e dos amigos que puxavam uns pelos outros e por todos os outros que puxavam por uns, da audácia a raspar na completa falta de consciência do único voluntário que, sozinho, aguentou o gelo das águas revoltadas do rio e conseguiu atravessar dezenas de participantes e evitar que fossem arrastados pela força das correntes. A partir aproximadamente do Km 17 (2º abastecimento), fomos apanhados pelo amarelo do alerta dos serviços de meteorologia: vento gelado e impiedoso, chuva intensa, nevoeiro austero que, de amarelo tinha pouco. Daí até à meta só percecionamos cinzento. O cinzento das escarpas de granito escorregadias e perigosas, o cinzento da exaustão e desalento pela dificuldade em progredir, o cinzento do horizonte infinito e dos cursos de água gelada, da dificuldade em produzir calor e da calçada que trilhamos até chegar à meta exaustos e só reconfortados pelo cor-de-rosa das palmas amigas, das bravas que não arredaram pé até chegarmos. Ficaram as dores, de pernas e dos dentes que rangeram e das bochechas que não tiveram descanso entre o abrir de boca de encanto por uma serra que não imaginávamos tão magnífica e as gargalhadas que marcaram um fim-de-semana na melhor companhia possível.

Ana

Ana

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