Last updated on 1 de October, 2020
Lembrei-me do cheiro da lareira quando, esta Sexta-feira à noite, cheguei ao Centro de Trail de vila Nova de Paiva”.
Em casa dos meus avós, na aldeia, entrava-se diretamente para a cozinha onde havia uma lareira alta e lá se cozinhava em panelas de ferro, de 3 pernas. Lembrei-me do cheiro da lareira quando, esta Sexta-feira à noite, cheguei ao Centro de Trail de vila Nova de Paiva. Fiquei alojada numa das duas casas de dois quartos do Centro de Trail e, mal entrei, fui assaltada pelas memórias dos serões à lareira. A casa é adorável, acolhedora, e, na cozinha, conta com uma grande lareira, alta, mais moderna do que a da casa da aldeia mas com o mesmo apelo aos serões à volta da mesa.
No presente momento em que escrevo, apanhei a Aida Presa a comentar “A nossa casa é onde a fazemos, é verdade!, mas existe sempre um sentimento especial nas nossas origens”. Ora, eu sou do Porto, cidade com que me identifico pouco e na qual não sinto que me encaixe. E a paixão com que fui apresentada a Vila Nova de Paiva pelo Pedro do Malhadinhas Club e pelo (Pedro) Nuno e toda a equipa Runners do Demo, o esmero com que o Centro de Trail foi apetrechado, fizeram-me sentir integrada, como se pertencesse ali.
Sábado amanheceu agradável e colorido pela diversidade de uniformes que esvaziavam as camionetas, junto da partida para a prova . O pórtico da prova do Trail Rota da Truta estava montado num painel idílico: o Parque Botânico Arbutus do Demo. A partida foi ordeira embora muito animada, com o contributo de divertidos e amáveis caretos, manifestação da vontade dos organizadores darem a conhecer as mais diversas tradições da região. O meu relógio desmaiou antes da partida mas julgo seguro escrever que o 1º Km, talvez 1,5 km foi corrido dentro do Parque Botânico, conferindo à partida da prova o lugar no pódio das mais bonitas em que já participei. Aliás, toda prova foi lindíssima.
Área envolvente do Centro de Trail Parque Botânico Arbutus do Demo Parque Botânico Arbutus do Demo
Como já é costume, rapidamente me vi sozinha, porém, duas associadas da Viseu Trail decidiram que a prova tinha percursos perigosos que não poderia fazer sozinha e, imediatamente, me acolheram como se tivessem treinado comigo a vida toda. Note-se: o trail, não é (já não), necessariamente, um espaço de entreajuda e companheirismo em que o valor da camaradagem e o respeito pela natureza se sobrepõe à urgência em atingir a meta. Contudo, as duas meninas de Viseu impuseram, desde o início, os valores da tolerância e da integração.
Os primeiros 6 Km até ao abastecimento, foram bosques e riachos. Foram cheiro a terra molhada e cobertores de musgo.
Correr aqueles 6 Km foi descobrir restos de moinhos ainda dignos, pisar tapetes de folhagem de Outono, foi saltar esculturas graníticas, em determinado momento com recurso a cordas. Foi atravessar lagoas, ultrapassar troncos, foi chegar ao primeiro abastecimento, carregado de opções, num abraço de uma imensidão de verde que nos envolvia. Seguimos juntas.
Correr aqueles 6 Km foi descobrir restos de moinhos ainda dignos, pisar tapetes de folhagem de Outono, foi saltar esculturas graníticas, em determinado momento com recurso a cordas. Foi atravessar lagoas, ultrapassar troncos, foi chegar ao primeiro abastecimento, carregado de opções, num abraço de uma imensidão de verde que nos envolvia. Seguimos juntas.
As menias de Viseu
Os kms seguintes foram escarpas e rochas, foram cascatas e ribeiros, foram volumes de vários tons de verde e subidas acidentadas em que as meninas de Viseu ganhavam vantagem e, dessa forma, se distanciaram um pouco.
Os kms seguintes foram escarpas e rochas, foram cascatas e ribeiros, foram volumes de vários tons de verde e subidas acidentadas em que as meninas de Viseu ganhavam vantagem e, dessa forma, se distanciaram um pouco.
Porém, numa parede rochosa de dificuldade considerável, esperaram por mim para, literalmente, me dar a mão. Ganhei avanço e, na travessia do rio, dei eu a mão em jeito de gratidão por me fazerem sentir integrada. Seguimos ao até ao segundo abastecimento, no Km 12, sempre com o conforto e a segurança só possíveis pelas marcações irrepreensíveis e os inúmeros voluntários distribuídos pelo caminho. Ao chegar ao abastecimento fomos cumprimentadas por uma amável burrinha e acarinhadas por voluntárias inexcedíveis que nos encheram as garrafas e aliviaram de qualquer dor ou cansaço que pudéssemos sentir. Comemos, que não faltava o que comer e seguimos.
Daí até ao Km 16 passamos por aldeias rurais, galgamos escadarias, sentimos a pele do rosto estalar ao sol que se começa a impor, apanhamos uvas, e não tínhamos intensão de parar no abastecimento. Porém, não resistimos à mesa farta e ao carinho das voluntárias e paramos uns minutos. Daí até ao final da prova, pairamos nas aturas do monte, sobre lagoas e levadas, atravessamos o Paiva, deslizamos na terra molhada à sombra de vegetação fresca, saltamos penedos enterrados em matos verdes fofos, atravessamos pontes e desfiamos conversa até chegar ao paralelo que nos levou à meta. O Paulo largou a Ester, que cortou a meta connosco e lambeu o resto do almoço maravilhosamente confecionado para recuperar as energias dos participantes. Foi uma maravilhosa descoberta, a da Rota da Truta, com trilhos lindíssimos que permitem correr com facilidade mas com subidas e descidas técnicas para quem precisa de ganhar resistência, com escarpas para quem gosta de trepar e muitas entradas no rio para os que gostam de dar uns mergulhos. São trilhos para todos os gostos, muitíssimos bem sinalizados, para que todos possam percorrer e todos se sintam integrados.
Max elevation: 791 m
Min elevation: 577 m
Total climbing: 964 m
Total descent: -911 m
Total time: 04:31:26
Ana
Muito boa a descrição, acho que está tudo dito desta prova magnífica, talvez das melhores do país, só o nome em comparação com outras ainda não atingiu o topo mas tem tudo para lá chegar rapidamente.
Acabei de fazer o trilho contigo mas uns dias depois. Quero só acreditar que o Trail ainda pode (ou é) ser mais que atingir a meta rapidamente.
Que maravilhoso dia Ana. 🍀☀️🙌
E que pena tive eu em não poder ir 🙁 .. mas prontos, estive lá um bocadinho através deste teu texto. Beijocas