Last updated on 1 de October, 2020
Foi em 2013 que participei, pela primeira vez, numa prova de Trail Running (mais a caminhar do que a correr): o Trail da Serra D’Arga.
Estava um dia de chuva impiedosa e trovoada forte. Mas a intempérie não me impediu de ficar maravilhada com aquele colosso de granito a romper terrenos xistosos com extensos lençóis verdes, garridos.
Estava um dia de chuva impiedosa e trovoada forte. Mas a intempérie não me impediu de ficar maravilhada com aquele colosso de granito a romper terrenos xistosos com extensos lençóis verdes, garridos. Levava umas sapatilhas comuns, um corta vento simples e uma mochila carregada de sonhos que haveriam de não se concretizar. Ou, pelo menos, não como eu imaginava.
Na altura, fui com o Paulo, mas sem a Ester, que ainda não existia. Este fim-de-semana fomos lá os três, com sapatilhas mais técnicas e mochilas mais leves de planos e exigências. Ficamos na Quintinha D’Arga. Chegamos na Sexta-feira à noite e fomos imediatamente recebidos como se fossemos da família. A Ester, adotada por nós, há 5 anos atrás, foi adotada por todos. Até pelos restantes hóspedes. Eram quase 21:30 horas quando nos apresentamos à porta, mas ainda pudemos jantar. E jantamos tão bem! Na sala com que sempre sonhei mas jamais fui capaz de expressar, provámos produtos locais magistralmente confecionados e ouvimos o João tocar e cantar. Afinado, muniu-se de uma guitarra igualzinha à que o meu avô tinha e fez-me chorar de saudades e de gratidão por tudo o que conquistei nestes seis anos, ainda que de forma tão diferente do que imaginava, em 2013.
Sala de jantar da Quintinha D’Arga O João a “dar-nos música” A Sabina no Mimo Moradores da Quintinha D’Arga
Sábado acordámos preguiçosos e devorámos o pequeno-almoço delicioso com dois dedos de conversa. Vestimos o corta-vento e fomos para a Serra. O objetivo era chegar de Dem à Montaria e dar um mergulho nas cascatas do Rio Âncora. Confiantes de que conhecíamos o percurso, não levámos GPS. E durante aproximadamente 4 Km seguimos o PR que acreditávamos ser o que nos levaria ao objetivo. Um trilho de teclas de granito a rasgar imensidões de pinheiros, amieiros e castanheiros, temperados pelo colorido das flores campestres. Não sei precisar em que momento, nem por qual razão, mas perdemo-nos. Deixamos de ver as marcas do caminho e não fazíamos ideia de onde nos encontrávamos. Começaram, então, as costumeiras discussões sobre “de quem é a culpa”, “do agora eu é que tenho que resolver”, “do queres fazer à tua maneira, faz, mas a responsabilidade corre por tua conta”, discussões muito comuns nas melhores famílias e regulares nas empresas portuguesas. Felizmente, já estragamos um número suficientemente razoável de fins-de-semana com trocas de acusações inúteis, a apontar culpas que, naturalmente, nunca são de uma só parte. Pelo que, respiramos fundo e simplesmente deixamo-nos ir, sempre em busca de um telhado de uma igreja ou chaminé que nos servisse de referência. E assim, por trilhos que desconhecíamos existirem ali, lá chegamos a Montaria. Não fomos aos Pinchos, nem chegamos às cascatas, mas, ainda que por linhas tortas, cumprimos o propósito de nos refrescar nas águas do Âncora.
A correr pela Serra S’Arga O caminho seria por aqui… O Paulo a pensar em como chegar lá em cima! Eu, a ganhar coragem!
Regressamos desejosos de chegar a Dem para visitar o Café Capela que tão bem nos recebeu e alimentou, em 2013. E, seis anos depois, encontramos as mesmas pessoas, os mesmos bancos, os mesmos azulejos e o mesmo carinho. Sentamo-nos à porta a beber uma cerveja fresquinha e não tardou a sermos convidados por um habitante da freguesia, a conhecer a sua casa: e nós fomos, pois claro! E mais tempo não ficamos porque urgia um banho quente e uns bons petiscos para recuperar energias.
Regressamos à Quintinha D’Arga, ao terraço com vistas para a serra, ao conforto das cadeiras de baloiço, ao aroma dos produtos da terra, ao embalo da voz do João.
Foi tudo diferente do que imaginávamos, o alojamento, os trilhos, os mergulhos, a freguesia. Mas, em rigor, foi tudo ainda melhor. Muito melhor do que imaginávamos. Vivemos tudo que pretendíamos e conseguíamos o que procurávamos, ainda que por linhas tortas!
Ana
A Ester a abastecer no Café Capela
Ana,
mais uma vez a tu escrita me encanta 🙂
Sabes….acho q o inesperado nos torna mais fortes, firmes e até com um sabor bem diferente de conquista.
Acima de tudo, sinto no q escreves q foste muito feliz com o inesperado!
Assim seja….sempre 😉
Beijinho
Mesmo que o caminho seja por linhas tortas, importante é q estejas na direção certa. Gosto de Ti.
A “minha” Xavier sempre a preencher corações. 💕💖💞 Ly
Há sempre caminhos alternativos…igualmente certos. 💕