Last updated on 10 de October, 2024
Em tempos, lamentavelmente, de guerra fomos conhecer a história do “Soldado Milhões”, da “Porca de Murça” e outras narrativas de Murça. E claro, conquistamos mais quatro carimbos para o nosso Passaporte Douro. Começamos a descoberta no Posto de Turismo e mesmo aí à porta, iniciamos o “PR3 MUR – Trilho dos Passadiços do Tinhela” que passa por vários pontos com interesse histórico num percurso magnifico com traços de bosque. A primeira paragem, com direito a carimbo, foi na estátua que homenageia Aníbal Augusto Milhais, mais conhecido por “Milhões”, um soldado raso que combateu na Primeira Guerra Mundial, condecorado com a mais alta honraria nacional, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, por se ter batido, sozinho, contra os alemães para ajudar à retirada das forças aliadas, durante a Batalha de La Lys.
E se Milhões foi um herói, santa é a fonte que se pode encontrar a poucos metros da estátua, que não vale carimbos, mas justifica a paragem: a “Fonte da Santa” de tanque retangular e espaldar decorado com uma lindíssima imagem de Santa Ana, pintada em azulejo. Como se dúvidas houvesse de que as Anas são umas santas!
Nem 300 metros depois, já estávamos em frente à estátua da “Porca de Murça”, uma escultura em granito, da época proto-histórica, com a forma de um animal e uma bagagem de lendas. De ter aterrorizado os povos, pela sua corpulência e ferocidade e ter sido morta por um cavaleiro a ter sido apanhada pelos homens mais fortes da aldeia, a porca andou de boca em boca até acabar em rótulos de garrafas e copos de vinho. A nós, valeu um carimbo e a descoberta das Queijadas de Murça, visto que a estátua se localiza mesmo em frente à Casa das Queijadas e Toucinho do Céu. Continuamos a seguir as indicações do PR3 MUR com a colaboração do São Pedro, mas defrontamo-nos com Santo António, mesmo antes de entrar no trilho de terra batida.
Ao abandonar a parte urbanizada da vila, o trilho mergulha em ondas de oliveiras e vinhas, muito organizadas e ergue-se em castelos de pinhais e musgos. A olivicultura e a vitivinicultura são motores da economia local e forram a paisagem que também se compõe de planaltos menos cultivados e imponentes afloramentos rochosos.
Seguimos até à Ponte Nova sobre o rio Tinhela, onde se iniciam as ‘Curvas de Murça’, palco de importantes provas automobilísticas de Montanha do nosso país. Aí, descemos em segurança, até ao rio Tinhela e continuamos a desbravar o caminho que entra na área protegida do Parque Natural Regional do Vale do Tua e passa a acompanhar a margem esquerda do rio em direção à Ponte Romana (Ponte Velha).
Abraçado pela natureza, o Rio Tinhela é muito vivo e fresco, de águas limpas e rebeldes e as margens são galerias de vegetação frondosa com perfil de bosque. Até à Ponte Velha, o trilho é bastante acidentado com muitas raízes visíveis e vegetação impactante erguida em sobreiros, azinheiros e castanheiros de beleza harmónica e notável.
Não nos aventurámos a mergulhar no rio, mas submergimos no silêncio de nós próprios e semeamos paciência e uma atenção plena que gostaria de ter trazido para casa.
Sem pressa, chegamos à Ponte Velha, a Ponte medieval sobre o Rio Tinhela , que foi construída pelos romanos e até finais do séc. XIX foi o único meio de ligação entre o nascente e o poente do Concelho.
Com um perfil horizontal, um único arco de volta redonda, amplo e alto e aduelas largas e regulares, a ponte tem um pavimento em lajes assimétricas de granito e numa das entradas, exibe imagens esculpidas na pedra, de armas. Mais recentemente, ostenta um moderno mecanismo que nos permitiu imprimir mais um carimbo, neste caso, um selo branco, no nosso passaporte.
Na Ponte Romana é possível, como alternativa ao trajeto recomendado, seguir pela variante do trilho que nos traz de volta a Murça, ou fazer mais 1 Km e conhecer os “Moinhos do Fidalgo”, que já não trabalham para matar a fome mas exercem, agora, funções de atração turística, restauro de memórias e motivo para descansar uns minutos.
Pausa para contemplação terminada, regressamos pela Calçada de Murça, um troço de uma antiga via romana que ligava Astorga à foz do rio Douro e ascendemos à improvisada estátua do “Tio Ruca”, aparentemente, Senhor Amândio Augusto, falecido em 1922 e cuja memória se ergue no cimo de um planalto com uma vista magnífica.
De pedra em pedra, passamos da calçada romana para o paralelo, arquétipo da modernidade que não perturba o sossego das ruas mudas e harmoniosas do Concelho. Do cordão de casa ordenadas, destacamos a casa em que habitou uma professora com o nome da minha bisavó e a Capela da Misericórdia de arquitetura singular, com colunas trabalhadas como colchas de crochet.
Novamente no Posto de Turismo, já com o carimbo aposto por nós próprios na Ponte Romana, granjeamos o carimbo do “Herói Milhões” e da “Porca de Murça” bem como o do Castro de Palheiros, um povoado fortificado da Idade do Ferro, que só é possível visitar por marcação.
De regresso a casa, já com os carimbos apostos no nosso passaporte, fomos ainda conhecer o Miradouro de São Domingos, com uma varanda rústica para onduladas encostas de vinhas e olivais, escavadas em escarpas de pinheiros suntuosos. Missão cumprida!
Ana.
Be First to Comment