Rio Febros: antes da hora

Last updated on 18 de August, 2024

A viver num quadro de Estado de Emergência com imposição de recolher obrigatório, decidimos treinar perto, nas margens do Rio Febros, dentro dos limites do concelho, para acabar o treino antes da hora.

Fomos fazer o Trilho do Rio Febros, um carreiro de terra batida cozido nas margens do rio Febros, com bordados de casario desgovernado.

O rio Febros é um afluente da margem esquerda do rio Douro e percorre os 4,5 km de um trilho homologado, em Avintes, com início a escassos metros do Cais do Esteiro . Deixamos o carro no cais e seguimos caminho, com a Ester.

Do Trilho do Rio Febros

Os 4,5 de trilho são tufos de freixos, ulmeiros e salgueiros de tons de verde-alegre, interrompidos por correntes de água fresca temperada por lajes de granito embrulhadas em musgo. São tapetes de lírios e violetas temperados por pontes de pedra, que se estendem por entre amontoados de povoados. Amiúde, uma ou outra casa restaurada com gosto e vestígios de moinhos de rodízio que outrora terão moído cereais, com vigor.

É um trilho muito plano, que nos permitiu correr, ligeiros, sempre atentos ao relógio, para acabarmos o treino antes das 13:00, hora do recolher obrigatório. Findo o trilho, seguimos o percurso que havíamos descarregado do Wikiloc e que nos levaria ao Cais do Esteiro, pelas margens do Rio Douro. Até ao Km 7, corremos pelo miolo de Avintes e não comemos broa, mas tivemos tempo para tomar um café no Pão-Quente e para encontrar amigos que não víamos há anos!

Ao Km 7, com a chuva a recuar e umas agulhas de sol a furar as nuvens, voltamos a entrar num trilho muito verde, com fisionomia de bosque, estendido aos pés de eucaliptos muitos íntegros, bafejados por amieiros a revelar um Douro plácido, à nossa esquerda.

Fomos a correr até à ciclovia e não resistimos a molhar os pés, a Ester a dar vários mergulhos. Reencontramos mais amigos, dois dedos de conversa a afagar a necessidade de conviver e viemos embora que pouco faltava para as 13:00 horas.

Não sendo magnífico, é um trilho muito fresco e agradável, que nos permitiu, por momentos, viver com alguma leveza, sem a obsessão deste vírus pérfido, que se infiltra pela mão mal lavada, pelo abraço amigo, pelo enrolar distraído nos cabelos.

Com as restrições à circulação e todas as contrariedades que temos enfrentado, temo-nos concentrado mais em tudo o que nos vemos privados de usufruir, no lugar de estimar tudo o que ainda podemos fazer. Fizemos de tudo: corremos, caminhamos, molhamos os pés, encontramos amigos, pusemos a conversa em dia, levamos a cadela à rua e tomamos café! Tantas coisas de que não estamos privados! Regressamos a casa, antes da hora.

Ana