Last updated on 1 de October, 2020
PR1-Serra das Meadas. Do início.
Este Domingo fomos fazer o PR1-Serra das Meadas. Com efeito, quando, em Agosto de 2014, encontramos a Ester a definhar numa valeta, levámo-la à clinica veterinária mais próxima, em Lamego. De tal forma que, foi lá que recebeu os primeiros tratamentos médicos, o primeiro banho de ternura, a primeira injeção de cuidados, comeu, pela primeira vez, biscoitos, adquiriu o seu primeiro boletim de vacinas que, entretanto, comeu!
Na altura, estávamos de férias com o Miguel e a vossa já conhecida Sandra que nos conduziu à clínica e, (já que estamos em Lamego, vamos petiscar qualquer coisa), estacionou em frente à “Presunteca”. Com dois palmos de ossos, embrulhada numa toalha de gente grande, deixaram-nos entrar com a Ester, que se sentou connosco no jardim e, entre tábuas de enchidos e espumante fresco da região, apaixonamo-nos por aquela cidade que não conhecíamos, mas que nos socorreu e acolheu quando precisávamos.
De férias no mesmo local, decidimos procurar um trilho em Lamego, para conhecer a cidade de outra perspetiva. Escolhemos o PR 1 – Serra das Meadas por parecer acessível e por estar sugerido no website da Câmara Municipal de Lamego, com a informação de que este e outros percursos se “encontram sinalizados de acordo com as normas internacionais de pedestrianismo”. Fomos, então, com a segurança de ir explorar um percurso marcado.
Segurança…ah… esse substantivo cínico e traiçoeiro, que se há coisa que aprendemos este ano é que a segurança não é de confiança: tanto nos aconchega e conforta como se dissipa por entre os dedos das nossas mãos, como areia seca.
Segurança…ah… esse substantivo cínico e traiçoeiro, que se há coisa que aprendemos este ano é que a segurança não é de confiança: tanto nos aconchega e conforta como se dissipa por entre os dedos das nossas mãos, como areia seca.
Lamego PR1 – Serra das Meadas. Do percurso Pedestre.
Estacionamos mesmo em frente a uma das entradas do “Parque Biológico da Serras das Meadas“, ponto de partida do percurso. Caminhamos precisamente 0,83 Km, num alcatrão abrasador, até deixarmos de vislumbrar qualquer sinalética. Na dúvida, já se sabe: sobe-se! Subimos. Continuamos sempre a subir até que, ao Km 1,54, demos a nossa capacidade de orientação por vencida e, perante a total falta de qualquer marcação, o Paulo descarregou o percurso do wikiloc, Deus, se existir, que compense quem lá descarregou o percurso.
A envolvente era refrescante, com aglomerados de pinheiros e carvalhos verde-garrafa, de copas fartas e trocos ornamentados por diferentes espécies de urze, de várias cores. Mas de frescura, só o olhar posto na encosta, visto que o trilho se alonga até aproximadamente ao Km 6, em alcatrão desinibido que, por estes dias, se expõe ao sol, como que a bronzear-se. A cada passo a Ester procurou uma gota de água, mas em todas as valetas e poços não encontrou senão terra enrugada e ressequida. Aproximadamente ao Km 3 descansamos os três, não tanto por necessidade física mas, sobretudo, espiritual, no Miradouro da Boavista…continuamos a subir: até ao Km 6 o trilho é sempre a trepar até aos 968 metros.
PR1-Serra das Meadas PR1-Serra das Meadas Isto lá ao fundo tem ar de fresco… Miradouro da Boa Vista
Antes disso e com 4 km e alguns metros nas pernas, uma placa enferrujada ostenta uma seta a apontar para a esquerda e indica “Serviços florestais”. Desconhecemos a que serviços se referem, mas arriscamos e virámos à esquerda. De água, nem vislumbre. Encontramos, porém, uma pequena capela, enquadrada por um cenário estupendo de relevos rochosos com abundantes aglomerados de pinheiros e castanheiros muito verdes. Até a Ester rezou!
Até a Ester rezou!
Ao km 5 encontramos, finalmente, o primeiro e escasso ponto de água do percurso e abastecemos o suficiente para chegar ao “ponto de não retorno”, aquele ponto da vida em que por mais arrependidos que estejamos das decisões tomadas, compreendemos que voltar para trás já não permite restaurar a ordem em que vivíamos, pelo que só nos resta continuar em frente e lidar o melhor possível com as consequências das escolhas feitas: no caso, somente tínhamos que suportar o sal a fritar no rosto e o fôlego encurralado nos pulmões. Esse ponto revelou-se aproximadamente ao Km 6, altura e que o GPS mandou virar à esquerda e seguir por trilho de terra batida que agora era descendente.
Descemos em silêncio. Não num silêncio incómodo e angustiante de quem não sabe o que dizer, mas num silêncio amplo de quem se conhece o suficiente por não precisar de viver através do outro. Aquele silêncio confortável de quem está concentrado no momento e não nas expectativas que o outro tem de nós.
Descemos em silêncio. Não num silêncio incómodo e angustiante de quem não sabe o que dizer, mas num silêncio amplo de quem se conhece o suficiente por não precisar de viver através do outro. Aquele silêncio confortável de quem está concentrado no momento e não nas expectativas que o outro tem de nós. Não trocamos uma palavra até por volta do Km 8, quando voltamos a entrar numa povoação e o Paulo fez a pergunta mágica “Vamos parar para beber um fino”, há lá maior medidor de que estamos vivos e não só existimos, do que uma cerveja de pressão, fresca? Parámos no “Recanto”, abrigados por ramadas de vinha ainda verdes e não pensámos em mais nada: só sentimos. Recuperamos e seguimos caminho por terrenos agrícolas com ponto de água de origem duvidosa que usamos para regar os pescoços e pasme-se, encontramos uma placa a assinalar o PR!
Aquela paragem estratégica! PR1-Serra das Meadas Finalmente um ponto de água! “Cãopanheiros” #fortenascaminhadas Afinal há placa! Lamego PR1-Serra das Meadas
Os últimos 2 Kms, ou por que assim pretendia ser o trilho que não estava marcado ou por decisão de quem o correu e disponibilizou, aligeirou-se pelos passeios da cidade, até ao carro, estacionado em frente ao Parque Biológico.
Não é um percurso técnico, desenrolando-se maioritariamente em alcatrão acidentado e, em grande parte, povoado, mas proporciona uma vista esplêndida e proporciona um excelente treino…bem como uma fértil manhã de broze!
Ana
Max elevation: 961 m
Min elevation: 530 m
Total climbing: 632 m
Total descent: -573 m
Total time: 04:26:47
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